quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

FÁBULAS

O galo e a pérola.

Um galo andava catando em um monturo vermes ou migalhas que comesse. Deu com uma pérola, e exclamou: “Ah se te achara um lapidário! a mim porém de que vales? antes um grão de milho ou algum bichinho”. Disse foi-se buscando por diante seu parco alimento.
MORALIDADE: A riqueza só tem valor para quem a sabe aproveitar.

A mosca e o carro.

Ia uma mula puxando um carro estava ele pesadíssimo; a estrada era pedregosa e cheia de covas, e a mula suava dobrando de esforço, e tendo em paga as chicotadas do arreieiro. Uma mosca que estava então sobre a cabeça do animal, compadeceu-se dele e disse-lhe ao ouvido: “Pobrezinho, vou aliviar-te do meu peso; agora já poderás puxar o carro”.
MORALIDADE: Quanta gente, tendo a importância da mosca, tem igual presunção?
O leão, a vaca, a ovelha e a cabra.

Fizeram sociedade (quem tal diria?) uma cabra, uma vaca, e uma ovelha, com o leão, rei dos animais, e de parceria se puseram a caçar. Pilharam um veado, e para logo felicitando-se e esquecendo o cansaço, dividiram-no, em quatro partes. Chegou o leão e disse: “Esta é minha, pela lei do nosso ajuste: esta outra quero-a para mim, porque sou rei dos animais; a terceira me haveis de dar em obséquio à minha valentia; e quem tiver o arrojo de bulir na quarta há de haver-se comigo”. Os parceiros calaram-se: e que haviam de fazer? antes perder o seu quinhão do veado, do que ter a mesma sorte que ele.
MORALIDADE: Em tudo lidai com os vossos iguais; pois sereis os primeiros que pagareis a superioridade de vossos aliados.

O ladrão e o cão.
Quis um ladrão entrar em uma casa; mas para guardá-la havia um cão, que com seus latidos o impedia. Para fazê-lo calar-se, o ladrão atirou-lhe um pedaço de pão. Bem te entendo, disse o cão, queres que por esse pão te venda o meu senhor que me dá de comer toda a minha vida, e que me confiou a defesa do que é seu; guarde teu pão; hei de ladrar até que acorde a gente da casa; e se te pilho, fisgo-te os dentes que te hão de curar do ofício. Não podendo corromper essa fidelidade, nem iludir essa vigilância o ladrão foi ver se achava alguma casa mais descuidada.
MORALIDADE: Não acredites de leve na generosidade de quem mostra querer obsequiar-te, e nunca, por consideração alguma, atraiçoes aos que em ti houverem confiado.
Os membros e o estômago.

As mãos e os pés revoltaram-se um dia. Trabalhamos tanto, estamos em contínuo lidar e tudo é em proveito do estômago, que aí fica folgado, empregando em vantagem sua quanto adquirimos. Não estamos mais por isso, queremos folgar, e viva o estômago como puder. Admoestações, rogos, instâncias, nada valeu. O estômago ficou em jejum; mas para logo todo o corpo caiu em debilidade; braços, pernas, pés e mãos foram dos primeiros a sentir um entorpecimento, uma languidez que os assustou; compreenderam que iam morrendo; voltaram pois ao seu antigo ofício, e dentro em pouco, graças ao condescendente estômago, se acharam restituídos à antiga robustez.
MORALIDADE: Todos somos membros de um vasto corpo, que é a sociedade; cada um exerce funções especiais, mais subidas, mais humildes, porém todas indispensáveis pára a prosperidade e até para a existência de todos.
FÁBULAS
(imitadas de Esopo e La Fontaine)

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